domingo, 10 de agosto de 2008

"... constatamos que, embora nascida de um movimento de afirmação política, o hábito de usar o cabelo trançado não está mais, necessariamente, diretamente vinculada à militância política - embora em alguns postos do mercado de trabalho tal vinculação pareça persistir, maquiada com a exigência de "boa aparência". Muito pelo contrário, a modelo negra no outdoor de um grande shopping e o rapaz negro na capa do jornal ostentam orgulhosos seus Blacks, em uma exemplificação daquilo que Hall chama de fascínio do pós-moderno global pela diferença. Não cremos que tal apropriação da estética negra pelo mercado, no entanto, possa ser confundida com cooptação, dado o potencial revolucionário que é permitir à maioria da população identificar-se sob o adjetivo "belo" sem precisar recorrer a estratégias que o aproximem do padrão branco. O outdoor de que falamos tem raízes no concurso de beleza negra, e este é um espaço que não pode ser desprezado.


Mas o fascínio do pós-moderno global pela diferença gera resultados imprevisíveis. De volta ao Centro Histórico da Salvador contemporânea, onde as trançadeiras oferecem os serviços a nativos e turistas, somos testemunhas, então, do curioso espetáculo de ver brancos usando o cabelo trançado como os negros. O resultado, claro, é bastante diferente. No cabelo fino e ralo da turista loira, a trança precisa ser mais apertada – mais dolorida – e irá se desfazer em bem menos tempo tempo. Mas o que quer uma mulher branca e loira, cuja aparência corresponde ao status quo, trançando os cabelos? Isso aponta para uma mudança no padrão de beleza em favor dos negros? Ou ainda: a cidade mais negra fora da África converteu em souvenir o penteado nascido das lutas de afirmação política?"

Dois parágrafos do meu trabalho final de Crítica da Cultura. Enfim, pronto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Ana, coordeno a edição do Absoluta e do Yinsights, onde vc postou um comentário. Gostaria de entrar em contato com vc a respeito do trabalho final de Crítica da Cultura.
Escreva pelo e-mail r.o.m@terra.com.br , ok?
Luz e paz,
RICARDO MARTINS