sexta-feira, 30 de maio de 2008

Mais sobre Enecult, gênero e cidade

Terceiro e último dia do Enecult - no MAPA 4, apresentaram-se Hanayana (políticas culturais do estado no governo Wagner), Vinícius (projeto delicioso sobre música brega), Dênisson (as representações de vaqueiro no cinema) e Margarida (mulheres grafiteiras).
Sobre o trabalho de Margarida, minha companheira de estudos de gênero, gostaria de falar um pouco mais. Penso que este trabalho tem potencial para colaborar com as reflexões sobre as diferentes apropriações que homens e mulheres fazem do espaço urbano.
Para isso, recorremos à oposição entre público e privado. Entre as inúmeras determinações que definem o que é ser homem e mulher na sociedade ocidental, está o espaço. Os homens seriam da rua, do mundo. Às mulheres, caberia o posto de rainha do lar.
Hoje, mulheres de qualquer classe social podem trabalhar fora, se assim o desejarem. Em Salvador, a maioria de nós é chefe de família. Mas a relação das mulheres com o espaço urbano ainda guarda traços de inadequação: de alguma maneira, nos comportamos como se ele não fosse feito para nós.
Lugares escuros, terrenos baldios, falta de segurança pública, acidentes de trânsito, exercem diferentes efeitos sobre homens e mulheres. Mulheres têm medo de andar sozinha à noite, seguram obsessivamente a bolsa quando andam e, quando no trânsito, são aconselhadas a voltar para o fogão.
É a partir desta reflexão que enxergo o potencial do trabalho de Margarida. Ao trazer à luz da academia o trabalho de mulheres grafiteiras, ela está dizendo que a experiência das mulheres com a cidade pode ser outra: não mais de medo e inadequação, mas de intervenção e expressão. O grafite feminino atropela a tradicional oposição do público x privado.

Nenhum comentário: