sábado, 11 de abril de 2009

(Para Linda Rubim)

Era uma festa para crianças, dessas em que não se serve refrigerante e os salgadinhos são à base de soja. Os pequenos estavam ocupados em atormentar um palhaço de sotaque indefinível, os adultos atormentavam-se uns aos outros.

- Mas por que é que se parte do princípio de que toda criança gosta de mágico?, indagava a avó, pós-doutora em Literatura Comparada.

O assunto enveredou pelas coisas que os adultos tiranicamente acreditam que as crianças gostam ("Palhaço!", "E Papai Noel?", "Coelhinho da Páscoa..."), e pelo sofrimento que é ter dez anos de idade.

- A infância é muito traumática, veja o que ela forma: adultos.

Enquanto isso, eu imaginava o que seria um espaço infantil adaptado para os filhos e netos deste pessoal. Os brinquedos seriam artefatos de nativos latino-americanos. Argila, monitores com nível superior, tudo ao som do coral de crianças regido por Villa-Lobos.

Claro que não estaríamos livres de problemas. Imaginem a confusão quano Cauan resolvesse morder um artefato indígena, para ver que gosto tem. Muito provável que as crianças não quisessem apreciar sentadas o rico cancioneiro popular. Felizmente, a tinta utilizada era anti-alérgica, e a guerra de cores não traria maiores conseqüências.

Enquanto eu pensava, as crianças rolavam no chão, brigando por apitos. Pobres crianças.

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